PAUL KARRER
A cansada ex-professora se aproximou do balcão do supermercado. Sua perna esquerda doía e ela
esperava ter tomado todos os comprimidos do dia: para pressão alta, tonteira e um grande número de
outras enfermidades.
“Graças a Deus eu me aposentei há vários anos” – ela pensou. “Não tenho energia para ensinar
hoje em dia.” Imediatamente antes de se formar a fila para o balcão, ela viu um rapaz com quatro
crianças e uma esposa, ou namorada, grávida. A professora não pôde deixar de notar a tatuagem em seu
pescoço.
“Ele esteve preso” – pensou.
Continuou a observá-lo. Sua camiseta branca, cabelo raspado e calças largas levaram-na a
conjecturar: “Ele é membro de uma gangue.”
A professora tentou deixar o homem passar na sua frente. – Você pode ir primeiro – ofereceu.
– Não, a senhora primeiro – ele insistiu.
– Não, você está com mais gente – disse a professora.
– Devemos respeitar os mais velhos – defendeu-se o homem.
E, com isto, fez um gesto largo indicando o caminho para a mulher.
Um breve sorriso adejou em seus lábios enquanto ela mancou na frente dele. A professora que
existia dentro dela não pôde desperdiçar o momento e, virando-se para ele, perguntou:
– Quem lhe ensinou boas maneiras?
– A senhora, Sra. Simpson, na terceira série.